sábado, 19 de fevereiro de 2011

De quem são os filhos?!


Bem, devido a algumas coisinhas que vêm acontecendo, que venho observado, hoje eu acordei com este questionamento: de quem são os filhos?! De quem os pais acham que são os filhos?!
Eu, de mim para comigo, sempre tive em mente que são do mundo e desde que fui agraciada por Deus com a maternidade da Tamiris, sofri muito para não ver naquele pequeno ser uma propriedade minha, que desde muito pequena eu teria que aceitar que ela faria escolhas, que algumas vezes prefereria estar com outra pessoa que não fosse eu, a mãe!
Quantas, quaaaantas vezes senti ciúmes porque, na casa de minha mãe, ela gritava: 'qué que a titia dá banhu , qué que a titia dá banhuuuuu'. Nestes momentos meu pior lado aflorava e eu sentia, de verdade, vontade de afogar aquela pequena criatura que estava me 'renegando', renegando meus cuidados! Que raiva que sentia, mas eu respeitava e deixava a titia, minha irmã, dar o banho que ela tanto queria!
Na maior parte do tempo eu até me sentia feliz e realizada porque a Tamiris não aceitava colo de ninguém, não ficava com ninguém e acabava comigo de tanto me solicitar, mas ainda assim eu era a mãe pessoa mais feliz e realizada do mundo, mesmo não conseguindo comer minha comida quente, mesmo não conseguindo nunca sentar à mesa com o resto da família, mesmo nunca conseguindo tomar um banho sem ser interrompida, mesmo tendo companhia constante para usar o banheiro!
Ah, como eu era feliz sendo sugada por aquela pequena criaturinha!!!
Era feliz mas sabia que ela tinha sua própria vida, que cresceria e que com o passar do tempo eu não seria tão requistada mais, que teria que prepará-la para ser um ser independente de mim, segura para tomar decisões, suas próprias decisões!
E eu sofri!!! Como sofri!!!
Sofri quando, aos 6 meses ela não quis mais dormir embalada ao meu colo, sofri quando com 1 ano e 9 meses ela saiu das fraldas sozinha, sofri quando ela não quis mais a mamadeira! Mas a cada vez eu sofria um pouco menos...
Chorei horrores no primeiro dia de aula porque ela nem olhou para trás! E me senti péssima por isso, porque afinal de contas o que eu queria?! Queria que ela se descabelasse na porta da escolinha, agarrasse em minha perna e gritasse 'mamãããããe, quero ficar com vocêêêê'. Como uma criatura adulta, em sã consciência, pode desejar uma coisa destas?!
Não que eu tenha desejado que ela sofresse, mas eu sofri por ver que ela era segura de si e não sofreu pela separação!
E aí eu fui aprendendo, mas não deixei de sofrer! Só passei a sofrer menos ou passei a acostumar com a dor que sentia...e ainda sinto...com os arroubos de independência de cada um deles!
Pensa que eu não senti uma pontadinha no coração no último dia 31 quando levei a Taís ao colégio e ela entrou na sala de aula sem me dar 'tchau'?!
E mais uma vez, depois de subir a rampa chorando, entrei no carro e me pergutei: 'ô maluca, o que você queria?! Queria que a menina chorasse, fizesse escândalo para ficar com você?!'. E aí, limpei as lágrimas e fui para casa feliz porque ela ficou bem com as novas professoras, com os novos colegas!
Posso dizer que o Tales foi o único que saciou esse meu mórbido anseio de que um filho chorasse na porta da escola, só que ele se superou e com o tempo eu deixei de sofrer com os escândalos homéricos que ele fazia no portão da escolinha!
No início eu ía para minha aula chorando por deixá-lo esperneando no colo da 'tia', mas ele fez isso um semestre inteiro, então...acostumamos todos! Ele acostumou a dar show e eu acostumei com o show dele, até porque quando eu ía buscar ele não queria ir embora, fugia e isso era sinal que ele ficava super bem na escolinha!
E aí, pensando nisso, pensando no compromisso e na responsabilidade que temos de tornar nossos filhos autosuficentes, seguros, autônomos, levantei pensando sobre como eu estou administrando toda essa situação nestes 14 anos de maternidade e acho até que estou me saindo bem, apesar de ter em mim uma dorzinha de vez em quando.
E aí abri meu e-mail e vi este texto de José Saramago e resolvi compartilhar com todas as mamães e as futuras mamães!

Grande beijo,

Claudia

Filhos são do mundo (José Saramago)

Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autônomos, libertos, até de nossas ordens.A partir de certa idade, só valem conselhos.
Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto aquele bebê que um dia levamos na barriga. 
  E a maioria de nós pais acredita e tenta fazer isso. O que não nos impede de sofrer quando fazem escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios sofrem pelas escolhas que recomendamos.

Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem.

Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.

Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo! Então, de quem são nossos filhos? Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.

E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento? Não deveriam retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice? Pensar assim é entender os filhos como nossos e eles, não se esqueçam, são do mundo!

Volto para casa ao fim do plantão, início de férias, mais tempo para os
   fllhos, olho meus pequenos pimpolhos e penso como seria bom se não fossem apenas empréstimo! Mas é. Eles são do mundo. O problema é que meu coração já é deles.
Santo anjo do Senhor...

É a mais concreta realidade. Só resta a nós, mães e pais, rezar e aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das nossas 'crias', que mesmo sendo 'emprestadas' são a maior parte de nós !!!


"
A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver "

José Saramago

6 comentários:

  1. Oi linda! Ando sumindo, rs. Muito trabalho, entende? Mas adorei esse seu post! É tão difícil deixar os filhos baterem asa pra fora do ninho... Beijos grandes

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  2. Muito lindo esse texto. Como é difícil para nós aceitar que eles são só "emprestados" para nós, que somos na realidade seus tutores, só nos cabe orientá-los, alimentá-los, amá-los....

    Bom findi querida. Beijos

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  3. Gosei muito do texto. Acredito sim que os filhos são do mundo, e que chega um momento que se muito eles nos permitem guia-los, ajuda-los, mas nunca controla-los.
    Estou aqui sofrendo com a ideia de deixar ou não minha pequena dormir no berço ou no colo. Ela pede colo, eu tento o berço, e parece uma luta. E doi... Ai me pergunto, pra que a pressa? Ela cresce tão rapido...

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  4. Oi,Claudia,
    É de fato muito difícil ver os filhos crescerem e se tornarem autônomos. Isso é a vida... Precisamos estar preparados e, sobretudo, prepará-los para esses momentos.
    Compartilhamos o link desse post no nosso Portal (www.escolavirtualparapais.com.br), ok?

    abs,
    Marcia Taborda

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  5. Eu já disse que sou alienígena? Fiquei tensa com o teu sofrimento. Mas aquele texto já diz o bastante. Você caminhou bem nesses 14 anos.
    Bjos

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  6. Cláudia!
    Amo ler oq vc escreve! Mesmo, muito! rs
    Suas reflexões são ótimas! Sua vivência singular com tuas filhotas e filhote me ensina muito, me faz pensar!
    E este texto de Saramago... quanta verdade!
    Bjo grande no coração, estou sempre por aqui lendo as novidades. Fique com Deus!
    Tati

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