Há algumas semanas estou querendo escrever sobre a espera por Letícia, entretanto não consigo ordenar as ideias porque o que eu gostaria de escrever está conflitando com o que estou sentindo.
Acabo de completar 43 anos, sou realizada, bem resolvida na questão infertilidade e na maior parte do tempo, maior parte mesmo, praticamente todo o tempo eu lido bem com esta questão. Já sofri, já vivi meu luto há quase 20 anos atrás e hoje o fato em si não me incomoda. Tenho filhos maravilhosos, educados, inteligentes, estudiosos e realmente a forma como nasceram para mim não faz diferença face ao tamanho do amor que sinto por cada um deles, entretanto, quando penso na espera por Letícia tenho sentido coisas que não senti antes, ou que na verdade senti em menor grau quando esperava a Taís: a dependência de terceiros para ter um filho!
Às vezes as pessoas se lembram e perguntam: "e aí, a Letícia vai chegar logo?" como se isso fosse algo que dependesse apenas da minha vontade!
Quando a mulher é fértil pode escolher quando vai ter um filho e não importa se ela já tem 3 filhos dormindo num mesmo quarto, ou se a casa tem um quarto só para a família toda, ou se tem meninos e meninas juntos, ou se os filhos têm muita diferença de idade mas assim mesmo dormem juntos. Para a natureza nada disso importa.
Para a natureza não importa se a mulher vai ter 10 filhos e os deixar passar fome. Para a natureza não importa se a mulher vai amontoar os filhos no chão em camas improvisadas nas espumas que pegou no lixão. Para a natureza nada disso importa. Se a mulher quer mais um filho, ela simplesmente pára com a pílula ou com o preservativo e pimba: lá vem mais um filho e nenhuma condição externa faz diferença nesta escolha tão pessoal.
Já para mulheres como eu esta não é uma decisão assim tão fácil, nem tão pessoal, nem tão independente. Isso algumas vezes incomoda.
Eu tinha planejado ter meus 4 filhos para o aniversário de 15 anos da Tamiris, mas pelos fatores externos isso não foi possível. Não que eu não tenha tentado, sabe? Em 2010 nós chegamos a participar das reuniões do grupo de apoio, juntamos alguns documentos, estávamos com a obra em andamento, mas deu tudo errado.
Primeiro que obra depende de pedreiro. Quanto a isso nem vou entrar em detalhes, mas posso afirmar que já me arrependi de não ter vendido a casa e comprado uma maior, com um quarto a mais e de ter abandonado o sonho de ver esta minha casa reformada.
Em 2011 tínhamos a intenção de retomar as reuniões no segundo semestre, achávamos que tínhamos encontrado o pedreiro que terminaria a obra, mas a vida nos reservava um golpe muito dolorido do qual começamos a retomar a vida somente em fevereiro deste ano.
Retomamos a obra, as participações nas reuniões, mas mais uma vez as coisas deram errado.
Agora fico olhando a casa sem terminar, desanimada para começar de novo com um novo pedreiro, sabendo que para dar entrada no processo preciso da casa terminada e chego a me indignar com isso tudo porque se eu engravidasse a Letícia já estaria aqui há algum tempo, provavelmente com 1 ou 2 anos, estaria bem cuidada, bem criada como os outros e nada lhe faltaria, mas eu precisei separar meus filhos de quarto para dar entrada nos documentos e disso dependeu uma série de fatores: mão de obra, dinheiro, material e assim o tempo vai passando.
Eles já estão separados, mas a obra está inacabada. Eu dependo de aprovação para ter um filho a mais e se mandar fotos como a casa está, nestas condições, certamente não consigo aprovação.
Sempre fui até que bem conformada com toda a burocracia para a adoção, mas uma coisa é você ser resignada e esperar o tempo passar com 20 ou 30 anos, outra bem diferente é esperar esse mesmo tempo passar para ter um filho com 43. Neste ponto da vida o tempo urge. Eu não tenho mais 10 ou 15 anos pela frente para enfrentar o início de uma nova maternidade e como dependo de aprovação, quanto maior a idade, maiores as restrições também para a aprovação.
Tentei lutar contra este sentimento de contrariedade em relação a tudo isso, mas não consigo!
Muita gente fala: esquece isso! Você já tem 3 filhos, tá bom! E aí eu pergunto: tá bom para quem? Ela é um planejamento de vida, faz parte dos nossos sonhos e projetos desde antes do casamento. Como assim, tá bom? Para nós ela já existe há muitos anos, só falta ter um corpo, uma fisionomia, uma presença física.
É certo que planos de vida podem ser modificados, mas isso quando você sente essa mudança no coração. Nós não queremos mudar este plano, nós não queremos esquecer nossa filha e nós não estamos conseguindo dar seguimento neste projeto porque dependemos de fatores externos.
Espero que na próxima postagem eu esteja ungida de novas energias, que consiga ter entrado na sintonia de fazer planos, que esteja vendo as coisas de forma mais otimista e alegre!
O título é um trecho de uma música do Roberto Carlos: Pensamentos. Geralmente relaciono músicas aos momentos de minha vida e embora não tenha nada a ver o conteúdo do texto com o da música, este trecho é o que sintoniza meus sentimentos neste momento.
Beijos,
Cláudia