terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sobre decisões importantes, inseguranças e incertezas! (parte 2)



Aqui -----►Parte 1 temos o resumo do desenvolvimento. Sigo com a fase escolar!


Chegamos ao primeiro ano e ela não registrava alguns números e algumas letras. Levou tempo para ela apreender o que era um número cinco e entender que '5' representava o número cinco. E com o oito, e com o nove. Todo santo dia a gente fazia as tarefinhas dos números e todo santo dia ela chorava que não sabia. Ela fazia os numerais 1, 2, E, 4, 6, 7, 10. Cinco, oito e nove não existiam. Três era sempre 'e' maiúsculo. Foi assim quase o ano inteiro. Todo mundo falava que era normal, mas ela sofria e quando decidi marcar a neuro, de um dia para o outro ela fez todos os numerais.
Okay, então! E terminou o ano fazendo os numerais, mas tropeçando nas letras.

Chegou o segundo ano. As dificuldades foram aumentando com o decorrer dos bimestres e ela não compreendia como fazia as contas, ela não entendia o que a lição estava pedindo para fazer e os livros começaram a vir para casa sem as lições feitas.
Todo dia uma choradeira. Ela sofria para compreender. Eu sofria para ajudar. Ela não fazia na escola, eu ficava brava em casa. E toda vez que eu perguntava:
- Mas por que aqui você responde tudo e na escola você não faz nada?
- Porque aqui você lê para mim!
E essa resposta insistente me acendeu um alerta! Se ela só compreende quando alguém lê ela pode, realmente, ter algum problema.
Passei a perceber que ela errava nas provas não por falta de conhecimento, mas por não entender o que as questões queria dela. Algumas respostas não tinham nada a ver com o que pedia a questão.
E assim terminamos o segundo ano, com tardes intermináveis de choros porque não sabia, porque não entendia, mas quando eu perguntava ela respondia.
E muito embora eu imaginasse que pudesse haver alguma desconexão entre o que é aprendido e a colocação em prática do aprendizado nos exercícios eu tinha dificuldade de entender porque era tão difícil responder escrevendo e tão fácil responder falando. Porque era tão fácil me explicar como se faziam as contas, mas não conseguir fazer as contas. Porque me contava com facilidade a história do livro e não conseguia responder as questões de compreensão do texto.

O terceiro ano iniciou como terminou o outro. Dificuldades na compreensão, choros, choros, 'eu num consigo', 'eu num sei', 'eu só consigo porque você lê para mim'.
Toda semana de prova era um estress. Quase toda lição de casa que envolvesse contas e textos, também.
De vez em quando dava um insght, ou algumas matérias ela compreendia mais fácil, e as provas vinham com notas melhores, aí eu relaxava e nas provas seguintes voltávamos à estaca zero de choros e notas vermelhas com provas mal respondidas ou não respondidas com ela sabendo a matéria.

Do meio deste ano em diante passei a observar que:

- A leitura dela está aquém da fase em que ela está. Ela lê uma palavra quando está escrita outra, acrescenta ou subtrai letras, sílabas.
- Ela não desenvolve 3 comandos se eu não estiver perto falando 'faça isso, isso e aquilo'. Se eu dou três comandos e mando ela ir fazer, por exemplo, em seu quarto, sempre um ou dois...ou dois e meio!...estão sem fazer, ou estão todos feitos pela metade ou algo que o equivalha.
- Tem dificuldade com sequências. Não consegue desenvolver as tarefas na sequência. Se perde indo e vindo nas contas e nas questões.
- Esquece! A frase que mais ouço 'eu esqueci...'. Esquece caderno e livro da lição de casa na escola, esquece estojo em casa, esquece de dar a agenda para a professora quando tem bilhete e eu peço para entregar. Esquece...
- Perde as coisas. Perdeu 2 blusões, dois cadernos. Borrachas, lápis e apontador nem faço mais contas.

Observando tudo isso comecei a me questionar se eu não estava fazendo com ela justamente o que eu não queria fazer.
Quando procurei a neuropediatra aos um ano e oito meses de vida dela foi justamente pensando que haveria a possibilidade de ela desenvolver algum transtorno de aprendizagem e porque toda criança que tem algum transtorno, antes de ser diagnosticada sofre! Sofre porque não entende o que acontece com ela, sofre porque os amigos rendem e ela não, sofrem porque tem consciência de que existe algo errado para ela ser diferente dos amigos, sofre porque ela aprende e então é taxada de preguiçosa, de acomodada.
Passei a ouvir que ela aprende. Não tem problema de aprendizagem. E eu sei disso. Ela é esperta, inteligente, aprende, sabe, mas não consegue colocar em prática o que aprendeu.
E eu brigava, obrigava a estudar, ficava junto tomando a lição, ficava tomando a lição dela pela casa, no carro a caminho da escola e quando vinha o resultado da prova era aquela decepção. Eu fazia a pergunta da prova e ela respondia certo, mas na prova estava ou errado, ou não respondido.

E, como não poderia deixar de ser, passei a sentir culpa por estar, talvez, fazendo com ela o que eu tentei evitar a vida toda.
Por conta disso, de como encerramos o ano, decidi que é o momento de fazermos uma avaliação para saber o que, realmente, acontece com ela. Sofre porque, não conseguindo render, fica com problemas de disciplina.
O pai, as professoras, a avó, todo mundo fala que ela não tem nada mas é impossível, para mim, não comparar a questão da aprendizagem dela com a dos irmãos. Eles não tinham nada. Não tinham nenhum tipo de dificuldade e eu nem precisava ficar junto para fazerem tarefas ou estudarem. Eu administrava conforme eles precisavam até que ganharam autonomia. Ela já vai para o quarto ano e não vejo uma luz de autonomia para ela no final do túnel.
Tomada a decisão, marquei com a pediatra. Ela me ouviu atentamente e crê que estou no caminho certo, que ela pode ser limítrofe, ter algo bem leve, mas que pode ter algo, sim. Estamos com as guias para neuro, fono e psicóloga. Uma já está agendada, as outras estou esperando agenda.

E aí tive que tomar uma outra decisão muito mais relevante: manter na escola ou tirar e passar para uma escola pública enquanto passamos pela avaliação. E depois de pensar muito, pesar prós e contras, decidi tirar e colocar na escola pública. Assim ela terá uma folga no excesso de cobranças (da escola e de mim) porque muita coisa ela já terá aprendido e vai rever, outras ela vai aprender, mas num ritmo mais lento.
Eu creio que terei tranquilidade para a avaliação e ela terá tranquilidade nas cobranças enquanto é avaliada.
Não foi uma decisão fácil. Não, mesmo, mas creio que é a melhor para o momento e ela compreendeu bem. Está até ansiosa porque na escola nova ela tem amigos 'velhos' com quem ela convive pouco atualmente.
E tomei a decisão pelo fator financeiro, também. Tem especialistas que ela precisará passar que o convênio não cobre. Terei que pagar. Esse é um fator relevante, também, para a decisão.

E cá estou, com a decisão tomada, com as coisas encaminhadas, mas com medos, receios, incertezas não pelo que possa ser avaliado nela, mas pelas consequências que poderão incorrer sobre ela devido às minhas decisões.
De qualquer forma estou confiante que estou, sim, no caminho certo quanto à avaliação. E se eu não estiver, se ela não tiver nada tanto melhor para ela, principalmente. No final do próximo ano sei que terei que tomar novas decisões e que tudo dependerá do que for diagnosticado. Se não tiver nada, volta para o colégio. Se tiver, viverei nova fase de tomadas de decisão. Mas isso tudo é coisa para o futuro. Nem vou me ocupar com isso. Aprendi há algum tempo a viver um dia por vez. E assim será!

Que Deus nos guie a todos: pais, profissionais, novos professores, nova escola para que o melhor seja sempre o que se conquiste para ela!


Abraços,

Cláudia